domingo, 1 de agosto de 2010

SAUDADES

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O importante é perceber os bons momentos que vivemos com esse ente querido. Além disso, tentar entender que nada acontece ao acaso, tudo tem uma finalidade e se a separação ocorre, ela causa um grande impacto, mas temos que guardar um bom sentimento e sabermos que a caminhada foi importante enquanto estivemos juntos e que a separação não é o fim. Existe a possibilidade do reencontro.

Nós aprenderemos a lidar melhor com essa separação se tivermos a certeza de que ela é transitória. Todos nós partiremos um dia para o plano espiritual. Lidar com a morte não é nada fácil, porque é conviver com a perda. O enfrentamento vem a partir do momento em que tentamos aproveitar a presença de nossos entes queridos enquanto estão conosco, demonstrando carinho e amor, para quando partirem, não sofrermos tanto. Mas o que resta quando esse ente desencarna é lembrar desses bons momentos e ter a certeza de que a perda não é permanente, é apenas transitória, É um período de afastamento.

A pessoa deve tentar levar sua vida adiante, porque quando ficamos presos demais à perda, no futuro acabamos tomando conhecimento de que não vivemos a própria vida e sim, a vida do outro.
Perder um ente querido significa um dos momentos mais difíceis da existência humana. A dor da separação daqueles que amamos pode ser definida de inúmeras formas. Alguns a descrevem como uma dor no coração indescritível, outros dizem sentir uma sensação de vazio como se a alma estivesse despedaçada, há aqueles também que custam a querer acreditar no que aconteceu. O fato é que a dor da perda não pode ser evitada, mas a maneira de encarar a situação e a compreensão de que a morte não existe pode ajudar as pessoas a passarem por este momento doloroso.

A crença na vida após a morte e que a separação é passageira, diante da eternidade, traz um grande consolo no momento da partida daqueles que amamos. Outro aspecto importante que a doutrina espírita ensina é que o desespero e a revolta diante desta perda podem prejudicar aqueles que partiram. A questão 936 de O Livro dos Espíritos diz: "Uma dor incessante e desarrazoada o toca penosamente, porque, nessa dor excessiva, ele vê falta de fé no futuro e de confiança em Deus e, por conseguinte, um obstáculo ao adiantamento dos que o choram e talvez à sua reunião com estes".

O espiritismo também recomenda a prece pelos entes queridos que partiram, para que seus corações possam se sentir aliviados. O Evangelho Segundo o Espiritismo traz uma coletânea de preces e fala da importância da oração pelos que acabam de deixar a Terra como forma de ajudar no desligamento do espírito, tornando seu despertar no Além mais tranqüilo e breve. "Vós que compreendeis a vida espiritual, escutais as pulsações de vosso coração chamando esses entes bem-amados, e se pedirdes a Deus para os abençoar, sentireis em vós essas poderosas consolações que secam as lágrimas, essas aspirações maravilhosas que vos mostrarão o futuro prometido pelo soberano Senhor".

Além da busca do consolo espiritual é preciso aprender a lidar com a perda do ente querido. Para compreendermos melhor como trabalhar interiormente esse momento tão difícil e doloroso, entrevistamos a psicóloga Kátia Flock, que é vice-presidente da ABRAPE (Associação Brasileira de Psicólogos Espíritas) e apresentadora dos programas Alquimia da Mente e Despertar para a Vida, na Rede Boa Nova de Rádio.

Como você, psicóloga e espírita, analisa a questão da perda de entes queridos?

Acredito que o indivíduo que tem conhecimento da existência da vida após a morte aprende a lidar muito melhor com a questão da perda de entes queridos, porque tem uma concepção diferente dos demais, sabe que a perda é apenas física e transitória. Então, quando a pessoa passa por essa situação, muitas vezes de uma forma inesperada ou brutal e tem a crença nos valores espirituais, consegue viver esse período de luto com maiores condições de enfrentar o distanciamento.

Quer dizer, então, que a pessoa que possui fé e crença na vida após a morte lida melhor com a separação?

A pessoa que crê na existência da vida após a morte e passa pela dor da perda de um ente querido, lida melhor psicologicamente e emocionalmente com a morte. O indivíduo que não tem essa concepção da existência espiritual, acaba vivendo esse distanciamento de uma maneira pior e de forma conflituosa, por não acreditar na possibilidade de reencontrar a pessoa que partiu.

Com a dor da perda, o psiquismo sofre muitos danos e se existir uma ligação muito forte entre esses, a pessoa acaba vivendo com um grande drama. Muitas, até, não conseguem se curar quando perdem seus entes queridos; continuam sofrendo muitos anos com a mesma dor.

Além do aspecto espiritual, como podemos trabalhar psicologicamente a dor da perda?

Nós temos que analisar o que é a perda. Ela significa não podermos mais compartilhar com aquele indivíduo que é muito importante em nossa vida. Todos nós temos pessoas importantes em nossas vidas, mas se estivermos mais preparados e desenvolvermos o autoconhecimento, aprenderemos a trabalhar melhor com os momentos difíceis. Muitas vezes existe uma dependência emocional muito grande entre elas e a perda parece brutal, até mesmo, desesperadora. Então, uma forma de lidar melhor com essas situações é a busca da psicoterapia. Por intermédio do tratamento, acaba entrando em contato com suas potencialidades internas e desenvolvendo a auto-estima, pois em geral, as pessoas muito dependentes das outras são pessoas que não confiam em si mesmas.

O autoconhecimento é uma ajuda para tudo na vida do ser humano, porque as perdas, as dificuldades e as frustrações existem e vão existir sempre. Mas a pessoa aprende, dessa maneira, a ter subsídios emocionais e afetivos suficientes para enfrentar as perdas em geral; aprende a canalizar o seu amor também para outras pessoas.

Desabafar sobre os problemas pode ajudar?

Sim. Falar, expressar seus sentimentos pode ajudar muito, mas apenas isso não resolve totalmente a questão. O tempo também ajuda a pessoa a enfrentar a situação.

É importante que aconteça a comunicação, porque o indivíduo muitas vezes acaba entrando em um estado de isolamento e se distanciar não é a maneira mais adequada de solucionar o problema. Negar, jamais deve ser o caminho de resolução de uma questão, e evitar falar é fugir.